sábado, 4 de setembro de 2021

as margens azuis de uma linha em construção

 


Como um curso de água aberto, assim o movimento de uma linha em construção acontece na tensão imponderável das margens que vai implicando, cada uma com a sua perspectiva, a sua luz, o tempo dos limites que lhes são próprios. São marcações de metamorfoses que se anunciam, que se implicam. As margens desafiam o curso da linha.








Série K Azul, porque uma cópia é sempre única


 

«Com a «série K azul» afirma-se simplesmente a virtude de uma perda, o saber de um esquecimento que liberta, o fascínio por uma prática que tende para a dispersão, que se quer campo claro, aberto, sem limitação definida de registo determinado numa série fixa, finita e fechada.

Cada imagem terá um número, é certo, mas este número é apenas a parte identificadora de um momento numa ordem «sem fim» à vista, como a determinação de uma imagem numa sequência aberta N [o conjunto dos números naturais que vão de 0 a + ∞].

Assim, cada imagem impressa será sempre a reprodução de uma matriz [que já em si é um resultado], uma cópia, mas será sempre uma cópia que logo no instante da sua aparência se torna única, exclusiva por aquele tempo que apenas a ela corresponde: o único aberto ao mundo.»

 

antónio alves martins | artes breves edições

 

<https://artesbreves.blogspot.com/2021/05/serie-k-azul-porque-uma-copia-e-sempre.html>




Anjos do Desespero : desenhos e colagens de António Luís Catarino


 «Os Anjos do Desespero, tal como Paul Klee os pintou, como Heiner Müller fez deles poemas, e Wim Wenders os filmou em As Asas do Desejo, são aqueles que, apesar de tudo, rejeitam a imortalidade porque exigem a Vida total, exaltam uma liberdade pura e tentam enlouquecer-nos, como uma saída possível, para que acabemos com o sofrimento contínuo de uma vida quotidiana sem senso. Müller avisa-nos: Eu sou o anjo do desespero, com as minhas mãos distribuo o êxtase, o adormecimento, o esquecimento, o gozo e dor dos corpos. A minha fala é o silêncio, o meu canto o grito. Na sombra das minhas asas mora o terror. A minha esperança é o último sopro. Substituindo o silêncio e o ruído destes desenhos figurativos a carvão, aguarelados e contornados a tinta-da-china, sobrelevam-se as colagens e as palavras. Porque só as colagens interagem com o impossível, com o absurdo, com o non-sense. Daí a sua importância unificadora e congruente. Produzem todas, no seu cruzamento simbólico, o vácuo. Esse grande vácuo por onde voam estes anjos desesperados, vívidos.»

António Luís Catarino

<https://derivadaspalavras.blogspot.com/search?q=anjos+do+desespero>