respira em abril a luz litoral diurna brisa
na noite o prenúncio das manhãs púrpuras
de maio
– o tempo das cerejas –
lembras-te do sopro?,
o rodopio vivo, ténue e breve
inscrição seca nos ecos de uma memória do rio, puro
vislumbre de um silêncio rasgando
a página e eludindo sem esquecer
a morte sempre viva, lembras-te do grito?
viveré! no negro brilho da agulha que corta brusca o tecido transparente a carne frágil matéria livre,
livre camarón roçando a linha, o limite
ilha esquecida à deriva repentina trágica
solidão resistindo no uivo
viveré!
no tempo breve das cerejas que agora recordo
leques de rosas púrpuras abrindo
sul que se queria levante perpétuo
azul-cobalto efémero delírio brusca leveza
imensa pausa, vertigem
a cegueira da luz resistindo ao pó,
ainda o tempo possível eco de púrpura luz
no grito da memória do rio, aqui
onde o murmúrio do deserto espreita
surdo silêncio ácido
[Escrito em 31 de Janeiro de 2018; reescrito em 10 de Maio de 2018.]