quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

pontes para maio_2




respira em abril a luz litoral diurna brisa 
na noite o prenúncio das manhãs púrpuras 

de maio  
o tempo das cerejas  
lembras-te do sopro?, 
o rodopio vivo, ténue e breve 
inscrição seca nos ecos de uma memória do rio, puro
vislumbre de um silêncio rasgando
a página e eludindo sem esquecer
a morte sempre viva, lembras-te do grito? 

viveré! no negro brilho da agulha que corta brusca o tecido transparente a carne frágil matéria livre, 
livre camarón roçando a linha, o limite
ilha esquecida à deriva repentina trágica 
solidão resistindo no uivo

viveré!  

no tempo breve das cerejas que agora recordo
leques de rosas púrpuras abrindo
sul que se queria levante perpétuo
azul-cobalto efémero delírio brusca leveza 
imensa pausa, vertigem
a cegueira da luz resistindo ao pó, 
ainda o tempo possível eco de púrpura luz
no grito da memória do rio, aqui
onde o murmúrio do deserto espreita  
surdo silêncio ácido    
  

[Escrito em 31 de Janeiro de 2018; reescrito em 10 de Maio de 2018.]