Os livros incluem, são, as palavras e as imagens que neles vão impressas: delas nascem os sonhos. Por isso, ambas devem merecer o tratamento adequado para que aquele a quem o livro é destinado – o seu leitor –, o possa sentir como seu próximo, o parceiro ideal – porque silencioso(?) – de infinitas e demoradas viagens.
Para aquele que com paixão se dedica à feitura desta quase droga material impressa, é fundamental – é essencial – encontrar na página o ritmo próprio ao desenho das palavras e das imagens com que se vê confrontado; encontrar, ainda, o ritmo, a cadência, o diálogo vibrante das páginas num jogo que vai tecendo cadernos – e os seus silêncios, brancos e negros.
Todo o livro anuncia e inclui, na estrutura narrativa que a sequência das páginas desenha, uma viagem, mas uma viagem que exige a quem a ela se entrega um tempo longo, interior – e uma dedicação absoluta, completa, sem tréguas.
É que, nesta viagem, o silêncio a que há pouco aludimos não é de todo o de um mar chão. Com isto quero dizer que na leitura, feita no silêncio recolhido da penumbra, o leitor deverá estar preparado para se deixar arrastar na dança violenta – por vezes caótica – que palavras e imagens vão tecendo, sem darem margem à mínima distracção.
Mas então, para quê tanto esforço, tanta dedicação, a um inferno assim?
É que, no final da tormenta – ao fechar o livro –, o leitor irá poder respirar, em silêncio, a plenitude interior que o preenche, inteiro.
Preparar o caminho para uma entrada sem barreiras neste inferno é a missão de um editor de livros.
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