terça-feira, 17 de maio de 2016

pontes para maio



respira em abril a luz litoral diurna brisa
da noite que anuncia as manhãs púrpuras de maio,
tempo das cerejas, lembras-te?, desse súbito sopro
breve rodopio vivo agora mera inscrição nos ecos da memória
calcária do rio, puro vislumbre, silêncio
rasgando a página branca, eludindo, esquecendo a morte
sempre viva!, lembras-te do grito


viveré!, negro brilho da agulha que corta brusca o tecido
transparente carne frágil matéria livre, livre
camarón roçando a linha limite, ilha esquecida à deriva
repentina solidão trágica desistência mesmo gritando,
mesmo resistindo uivando viviré!


no tempo breve das cerejas que agora recordam leques
de rosas púrpuras abrindo para um sul que se queria levante
perpétuo azul-cobalto matéria efémera delírio,
brusca leveza imensa pausa na vertigem silenciosa da luz
vertical resistindo ao pó, ainda o tempo possível eco
púrpura luz, grito vívido na memória calcária do rio, aqui
onde o murmúrio do deserto espreita, surdo silêncio ácido